segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Expectativas.

Cheguei a criar expectativas.
Eu sempre as achei dóceis, meigas...
Que seriam capazes de me ajudar a dormir
E a levar a vida de forma mais natural.
Cria na capacidade delas me confortar
Serem companheiras, daquelas que nos aguardam chegar a casa
E nos recepcionam na porta, cheias de esperanças;
Esperanças minhas de um futuro próximo, sem demoras.
Ah, essas meninas... confiei nelas.
Achava que seriam a morfina da minha espera.
Eu ignorei os alertas. E, olha... foram muitos.
Disseram-me sobre os riscos de tê-las tão perto de si.
Que são mansas, porém, corrosivas...
Uma dose de ácido que devora o interior,
De baixo para cima.
Não deixa nada... devoram-nos com avidez.
Quanto mais as alimentava,
Mais elas queriam, ansiavam...
Assemelham-se a cupins, acho.
Aliás, cupins, vocês estão perdendo...
Chamem-nas para um chá e arranque delas seus segredos.
Mas... quer saber? Já não as crio mais!
Estou deixando-as morrer à míngua.
Não tenho mais como alimentá-las... pesado.
Eram famintas, esganadas... pobre de mim.
Sugaram o que eu tinha, o que eu não tinha...
Entrei no cheque-especial das forças, dos sentimentos.
Endividei-me, perdi a paz.
Já me atacaram, várias vezes.
Durante o sono, sempre durante o sono.
Enquanto sonho fitando o teto do quarto,
A parede invisível na escuridão do cômodo...
Pulam em mim, mordem meus pés...
Arranham-me, ferem meu peito
As unhas ficam na carne, rasgam abruptamente.
Eu as criei, eu as alimentei:
Dias de alegria, sorrisos espontâneos...
Frases feitas, não feitas, ditas e não ditas;
Momento que não cheguei a viver, fantasias...
Visões de “poderia ter sido”
“Seria”, “faria”, “diria”...
Tolices tolices tolices.
Sou o único responsável pela dor da ilusão.
Agora, parei.
Que morram de fome!
Secas, decompostas.
E rápido, só peço que morram logo,
Pois a todo momento...
Uma delas agoniza, geme...
Emana um sopro da vida que ainda lhe resta.
Lutam pela sobrevivência,
São robustas, força não lhes faltam.
Resistem a tudo, mas eu...
Eu acabo por me arrepender de tamanha judiação.
Abraçam-me os sonhos novamente.
Sinto o falso calor das minhas fantasias me envolver...
Uma onda morna que entorpece, engana.
Não resisto.
Limpo a caminha delas...
Troco a água turva...
Solto-as pela casa e elas correm
Desesperadamente para seus pratos
Que, mais uma vez, estão cheios.
Eu os enchi.

2 comentários:

  1. Criar, alimentar e manter expectativas como um "bichinho de estimação" é praticamente meu hobby. Por mais que prometa a mim mesmo com todas as forças que não vou criar mais, quando vejo lá estão elas, praticamente balançando o rabinho pra mim.

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  2. É como eu coloquei. Facilmente, eu as deixo dominar minha casa toda. Obrigado por acompanhar o blog. Se puder, ajude a divulgá-lo. Forte abraço.

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