Acaba de chegar uma frente fria à cidade.
Daquele dia lindo de sol, céu claro e tarde cheia de calor, veio uma ventania danada.
Vento gélido, devo dizer.
Uma friaca de doer no peito.
E como dói, meus caros, como dói.
Nuvens escuras.
Queria acreditar que ainda que tenho um dia de praia todos os dias.
Daqueles memoráveis nos quais se vai, se mergulha e se renasce.
Queria reviver um dia daqueles só para sentir aquelas águas que me envolveram e não me deram outra escolha senão entregar-me ao balanço das ondas.
O tempo não volta.
Nenhum momento é revivido.
E o que vai, se vai.
Queria poder sonhar novamente com aquele futuro presente que tive aqui nas mãos e que não deixei escapar.
Uma utopia propensa a deixar-se morrer e virar vida.
Utopias não se realizam.
São utopias, oras.
Se esse nome recebem, meu caro, não é à toa.
Levitei mesmo sem ter sabido o que não tocar os pés no chão era.
Consegui.
Voei.
Pouco, mas voei.
Caí.
Mas voei.
Tempo severo esse aqui.
Pelo jeito, essa frente fria é das brabas, daquelas que chegam de malas e provisões. Passeios ao ar livre? Nem tão cedo.
Tenho que sair, então saí.
Não levei capa, nem guarda-chuva.
No corpo, só um short.
Na cabeça, um bonezinho e óculos escuros no rosto.
Verão a mim em um dia de praia.
As águas no rosto não me freiam.
Sigo novamente em direção ao mar.
Eu sei que chove. Eu sinto os pingos árticos me atingir.
Mas só chove em mim. Eu que sinto.
Aos outros, é só mais um dia de praia.
Um belo dia de praia.