quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Aurora.



Caminhando pela rua
Dia de sol, sabe?
Agradável brisa, céu limpo
Quente apenas.
Bom, confortável
Atento, sempre
As vidas que passam por mim
Marcam-me pelos olhos
Braços e bocas
Passam, apenas passam
Acho que nem queria que ficassem
Sem propósito, sem querer
Foram-se
Como devia ser
Sempre atento
Sobejo de cautela
Todo e qualquer movimento
Estava de olho
Já tive minhas fases de queda
Cada uma pior do que a outra
Uns roxeados tenho ainda
Já esverdeando, curando
Nem doem mais
Daí, andando e andando
Transitando pelas ruas da certeza
Esquina com a avenida controle
Tombei
Tombei sem cair
Nem tinha notado que era noite
Só notei porque
Ao despertar
O sol estava a nascer

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Vida.

Lembro-me de tudo
Posso começar?
Sei toda sorte de detalhes
A luz do poste era laranja
Iluminava o exato trecho da rua
Que atravessamos
Apressadamente.
Era tarde, e a violência urbana?
3:00 da manhã não é para os fracos
Naquele cruzar de ruas
Seu vocativo me penetrou
Desmontei de pé, como fiquei
Parecia que sempre estive ali
Com você, de você
Que dupla, na noite
Os risos eram tantos
De minha parte, embriagados
A felicidade foi o meu ópio
Tudo parecia tão divertido
Em meio a estranhos, quem diria
Eu, capricorniano antissocial
Velha guarda dos unidos do sofá
Sócio interino no clube dos calados
Lá estava eu, alegre como se a vida fosse apenas aquilo
Uma longa noite curta curtida
Regada a amizades, vidas e amor.
Pertencimento me definia
Ao pegar minha mão, ah, quando...
Podia me levar onde quisesse
Puxar-me correndo pelas ruas claras e escuras
Vielas da boemia carioca
Que risco? Que medo?
Confiava completamente em você
Sua direção seria a mais segura.
O conforto que sentia em teu olhar
Eu o via sem ar de novidade
Sem receios ou cuidados
Fomos nós mesmos sem rótulos
Sem cascas, máscaras ou escudos
Não nos protegemos da onda avassaladora
Corremos para ela sem mergulhar
Abri meu peito para o espelho d’água
Deixamos arder o soco, o tapa.
Levantamo-nos juntos
Sabedores do impacto
Cientes do encontro
O reencontro de nossas almas
Há tempos ocorrido
Há tempos esperado
Sem saber, soubemos lá
Sábado fim, Domingo novo
Nos braços de quem sempre me esperou
Origem
Estaleiro de mim
Cais de partida
Saí
Não volto mais.

domingo, 17 de novembro de 2019

.


Seriam caracteres ordenados em palavras
Listados alfabeticamente em ordem
Encadernados em capaz dura
Seria um livro finito capaz de traduzir
Todas as palavras?
O léxico limita os sentimentos
Nem tudo tem nome
Nem tudo se traduz em letras
Ou expressam-se em papéis
Por vezes, sentimos algo
Tentamos traduzir, explanar
Fazer-se compreender
Queremos recitar aquele tremor
Lança fincada no peito sem dor
Com sequências de letras limitadas.
Temos a necessidade de explicar
O que não tem explicação
Nem verbete
Nem registro
Não criaram a palavra
Ansiedade? Não.
Tensão? De maneira alguma.
Amor?
É pouco
Muito pouco
Limitante
Simplório até
Usado ao léu
O que sinto ainda não se chama
Nem teria talento para criar seu termo
A fome da saudade
Do mal em conflito no paraíso
O final do destino de outrem
O beijo na testa
A mão na perna
Plenitude?
Não... é pouco.
Sensações desconcertantes
Deliciosamente sentidas
Sabedor é o corpo, meu; teu.
Poderiam ser choque, descarga elétrica
Mas não
Ainda menor
Reles e óbvio
Para que avaliar?
Sentimos e pronto, oras
Para que definir?
Basta sentir.