Quando
acordo em um Domingo, percebo logo que é um dia diferente dos outros.
Não
apenas por ser um dia de descanso, relaxamento, mas há algo singular nesse dia.
O
som do Domingo. Será que alguém já reparou na sonoridade desse dia? Dependendo
de onde mora, não há. Sem fazer puxa-saquismo a Simon & Garfunkel, apesar
de merecem uma feriado internacional, é o som do silêncio a que me refiro. Há menos carros
circulando, menos ônibus e o barulho que impera, quando há, são vozes, passos,
latidos, enfim, sons quase imperceptíveis caso estivéssemos em qualquer um dos
cinco dias úteis. Até mesmo o Sábado é um dia mais lento, mas nada se compara
ao marasmo, por vezes insuportável, do Domingo.
Isso
me lembra um pouco as madrugadas. Há
Domingos que são tão lentos quanto uma Terça-Feira às 02h00 da manhã. Ouvimos
nem vozes, passos então... . Ouvimos, quando passam, carros e aquele som de
frescor que deixam para trás, um de cada vez, pois não há tráfego intenso tão
tarde; pelo menos onde moro e digito esse texto agora.
Engraçado
que já percebi até a coloração de um Domingo especial. Parecia-me diferente de
uma Segunda ou Terça-Feira de sol. Os dias da semana me parecem sempre mais
claros e o sol, mais forte. Mas isso aí eu atribuo a minha preguiça mesmo. O
sol jamais brilharia mais forte apenas para castigar os assalariados que batem
ponto às 7h da manhã. Sol é natureza e a ela, toda veneração e admiração. Eu é
que não ousaria desafiá-la. Deus me livre!
Afinal
de contas, por que há tanto preconceito contra o Domingo? Só porque é véspera
de Segunda-Feira? O problema seria contra a Segunda-Feira e seu impiedoso senso
de “ainda faltam cinco dias para o próximo fim de semana”? O problema seria ter
a casa cheia naquele dia dedicado à reclusão absoluta? Talvez seriam
aqueles programas de televisão que mostram a espúria face do brasileiro, sem
cortes ou filtros. Alguma razão há de haver. Também não podemos culpar a lua e
os astros por tudo que acontece em nossas vidas.
Percebi
isso no último Domingo. Gosto de prestar atenção a essas besteiras que para
nada servem. Vazios que são pensados em uma manhã cinzenta do primeiro dia da
semana. Na verdade, nem se trata de gostar ou não. Quando percebo, lá estou eu,
pensando no que as formigas que vi no dia anterior andando na beira de uma via
expressa estão a fazer naquele momento. Talvez estejam em suas tocas; ou
mortas, o que acho mais provável. Inutilidades. E elas, na minha opinião, são piores do
que as futilidades. Nessas você ainda gosta de alguma coisa; naquelas, apenas constata
que tudo aquele foi... perdido.
Não
considero o Domingo um dia como os outros. É um dia qualquer para alguns, de
folga para outros. Ou seja, o Domingo é como se fosse a nossa vida dentro do
cotidiano. Enquanto uns crescem, outros sucumbem. Em todos os sentidos
possíveis. Nunca será tão massacrado como uma Segunda-Feira, muito menos
venerado como a Sexta-Feira - que é apenas mais um dia de trabalho; nunca entendi
direito toda essa adoração por esse dia – e tão pouco relaxante e macio como um
sábado. É um dia neutro, sem ondas ou marolas.
Eu diria que se trata de um dia moco. Apenas isso, moco.
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