Olhem
bem para o rosto dessa professora, meus caros.
Esse
olho inchado é nosso; esse sangue que escorre também é nosso. Não digo isso por
eu ser professor, de jeito nenhum seria apenas por isso. Digo isso porque vivo
em um país que gera um adolescente como esse, que agrediu a colega em destaque.
Afinal,
um país que cria um adolescente capaz de socar o rosto de sua professora
senhora dentro da escola é o mesmo que tem um político como Jair Bolsonaro em
ascendente crescimento nas pesquisas eleitorais para presidente; e o mesmo país
que alimenta uma polícia assassina acostumada a espancar o morador e a receber
o “arrego” do tráfico; é o mesmo país que tem um congresso composto por
corruptos orgulhosos de suas práticas maledicentes. Isso tudo porque, como já
dizia o sábio Darcy Ribeiro, vivemos em um país cuja “crise na educação não é uma
crise, mas, um projeto. ”
A
cada dia que passa, deparamo-nos com os frutos desse projeto. Estamos colhendo
esses frutos podres. Hoje, quem colheu foi essa professora. Uma maçã com peso
de uma bigorna caiu sobre seu rosto enquanto olhava para o céu.
Começo
a chegar à conclusão de que o Brasil não é um país de contrastes, como
costuma-se dizer, mas, um país bastante uniforme. Nada aqui funciona. Nada aqui
foi feito para dar certo. A roda não foi feita para girar; e não gira.
O
Brasil de 2017 é o fruto de uma engenharia maligna, que tem uma aparência de
efetividade, mas que, por trás do ralo verniz, está o arraigado interesse pelo
não acontecimento. O Brasil não dá e nem dará certo porque nossa estrutura já
foi criada para ser falha. E no quesito “ser falha”, obtém nota máxima todos os
dias.
Já
o povo diz estar acostumado e acomoda-se. Todos nós temos uma parcela de culpa pelo trauma que minha colega passou.
Desculpe-nos,
professora Márcia. Esse país não te merece.
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/professora-agredida-por-aluno-apos-expulsa-lo-de-sala-dilacerada-21730771?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo