Por que não notar o som da madrugada?
Abra a janela, olhe para rua e perceba que o silêncio é perfeitamente
audível.
Casas, edifícios, blocos retangulares com suas janelas fechadas, e som
de motor dos aparelhos de ar condicionado ligados. Cidade abafada, quente de
calor humano. Pessoas dormem, ansiosas pelo emprego que não têm ou lamentam
acordar cedo para irem trabalhar.
Normal. Quem nunca fez isso? Sem julgamentos.
Nessas mesmas casas, edifícios, pelas janelas luzes acesas, ou somente
os flashes de televisões ligadas. Talvez, apenas ligadas, sem espectadores.
Muitos gostam de dormir ao som de programas, filmes ou simplesmente apreciam
aquela luz tremida que o televisor emite no quarto. Medo do escuro, eis mais
uma possibilidade. Tememos o que não podemos ver. Tememos o outro; o futuro.
O céu é cinza. Dá para perceber quando está nublado, mesmo durante a
noite. O vento morno dessa noite prenuncia chuva. O som das folhas das árvores
batendo umas nas outras que chamou a minha atenção. Particularmente, amo essa
música que produzem. Gosto de assistir aos passos que dançam obedecendo a
cadência dos ventos, da natureza que não cessa em encantar, até quando muitos
não a apreciam. Se chover, ficarei ainda mais encantado. Como é bom deitar para
dormir ao som da água caindo sobre o asfalto, vislumbrando as colisões que imagino
ao escutar trovões. Os raios que clareiam o cômodo temperam meu espaço sombrio
pelo horário. Satisfaço-me.
Carros não passam, por vezes, passam. Um a cada minuto, creio eu. Não
cronometrei. Pensamos no que motiva alguém a pegar um carro às duas da manhã. Volta
do trabalho, esticadinha com os amigos, fuga da polícia, doença, tragédia? São
poucos que passam. Não importa.
Menos ainda são pessoas. Não há, simplesmente não há quem caminhe por
aqui tão tarde, ou tão cedo. As ruas parecem outras sem as cores que o povo dá
a elas. O rebolar da vida acontecendo é o oxigênio das cidades. É como caminhar
pelo centro da cidade em um Domingo chuvoso no cair da tarde. A vida é composta
pelo movimento das pessoas. No Domingo, lá, não há vida. Na madrugada, aqui
também não.
Melhor deitar-me. Apagar as luzes e fechar os olhos.
Cansei.
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