quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Insone.

Por que não notar o som da madrugada?
Abra a janela, olhe para rua e perceba que o silêncio é perfeitamente audível.

Casas, edifícios, blocos retangulares com suas janelas fechadas, e som de motor dos aparelhos de ar condicionado ligados. Cidade abafada, quente de calor humano. Pessoas dormem, ansiosas pelo emprego que não têm ou lamentam acordar cedo para irem trabalhar.

Normal. Quem nunca fez isso? Sem julgamentos.

Nessas mesmas casas, edifícios, pelas janelas luzes acesas, ou somente os flashes de televisões ligadas. Talvez, apenas ligadas, sem espectadores. Muitos gostam de dormir ao som de programas, filmes ou simplesmente apreciam aquela luz tremida que o televisor emite no quarto. Medo do escuro, eis mais uma possibilidade. Tememos o que não podemos ver. Tememos o outro; o futuro.

O céu é cinza. Dá para perceber quando está nublado, mesmo durante a noite. O vento morno dessa noite prenuncia chuva. O som das folhas das árvores batendo umas nas outras que chamou a minha atenção. Particularmente, amo essa música que produzem. Gosto de assistir aos passos que dançam obedecendo a cadência dos ventos, da natureza que não cessa em encantar, até quando muitos não a apreciam. Se chover, ficarei ainda mais encantado. Como é bom deitar para dormir ao som da água caindo sobre o asfalto, vislumbrando as colisões que imagino ao escutar trovões. Os raios que clareiam o cômodo temperam meu espaço sombrio pelo horário. Satisfaço-me.

Carros não passam, por vezes, passam. Um a cada minuto, creio eu. Não cronometrei. Pensamos no que motiva alguém a pegar um carro às duas da manhã. Volta do trabalho, esticadinha com os amigos, fuga da polícia, doença, tragédia? São poucos que passam. Não importa.

Menos ainda são pessoas. Não há, simplesmente não há quem caminhe por aqui tão tarde, ou tão cedo. As ruas parecem outras sem as cores que o povo dá a elas. O rebolar da vida acontecendo é o oxigênio das cidades. É como caminhar pelo centro da cidade em um Domingo chuvoso no cair da tarde. A vida é composta pelo movimento das pessoas. No Domingo, lá, não há vida. Na madrugada, aqui também não.

Melhor deitar-me. Apagar as luzes e fechar os olhos.

Cansei.

Os pensamentos que chegam a nossas mentes somente na hora de dormir nos invadem como ondas gigantes de um filme americano que retrata desastres naturais. Por vezes, sou arrastado por essas águas violentas e me pego assim, às quatro e trinta e sete da manhã, acordado e imaginando o que vai acontecer. Quando vai acontecer e se irá acontecer. 

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