segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Enchente.

Ouvi um trovão ecoar.
Não, quem me dera. Queria tanto.
Queria uma tempestade sem precedentes, sem avisos.
Relâmpagos assustadores que coagiriam todos.
Daqueles que fariam qualquer um na rua tremer.
Tremer vidraças, tremer o solo.
A ventania seria necessária.
Queria ver telhas voando, sacolas no céu como pipas.
As árvores envergar-se-iam tanto que quase que deitariam.
Algumas deitariam, sem volta.
O noticiário não falaria em outra coisa.
Não saiam de suas casas;
Fiquem em lugares seguros.
Ônibus parados; metrô interditado.
Um pandemônio magnífico.
Era tudo que eu queria agora.
Um motivo embasado.
Uma razão justificável.
Sem culpas ou ameaças.
Para que eu ficasse, ficássemos
Ilhados, incomunicáveis.
Imersos nesse quarto.
No caos da natureza que nos unira  
O deleite de uma fantasia
Sob a luz de raios cortantes
Revelando na penumbra a arte
Seu corpo, trovão de cheias
Leva cacos leva portas
Lava espaço lava solas
Quarto, copa, cozinha e sala
Meu corpo tua morada.

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