segunda-feira, 30 de abril de 2018

Desejo.



Quero
Claro que quero
Quem não quer
Não de qualquer jeito
Quero ao acaso
Nos pequenos detalhes
Que se descubra no escuro
Que se revele em um desdobrar-se
De frases e versos e vozes e toques
Quero que seja diferente
Daqueles raros
Que poucos veem por aí
Memorável para a eternidade
Que se torne uma marca em minha alma
Um traço em meu espírito
A ser carregado para além
Além de mim, além do mundo
Que seja incomparável ao passado
Que cure meus traumas
Desconstrua meus conceitos
Seja exceção às regras
Minhas regras
Que faça entender o valor da gratidão
Grato pelo encontro
Pelas coincidências
Pelos meios que me levaram até
Que me surpreenda com sua magnitude
Que me choque com carinho
Que me cubra de calor
E me embale em seu deleite
Que me preencha
Que nada me falte
Que não sinta falta
Que me importe apenas
Tão somente o agora
Que acelere meu relógio
Dias e noites mais curtos
Que me dê saudade
Que me doa o peito
Que me faça sorrir
Do nada, mas não sem razão
Que faça planos, sonhar
Que não me permita loucuras
Quando a sanidade faltar
Que me traga de volta ao solo
Que surte comigo
Deboche mútuo, que idiota
Que seja autônomo
Que não seja o ar
Mas que seja importante
Relevante
Que goste do que se fala
Que entenda o que se passa
Que se importe
Demonstre
Em letras garrafais, várias vezes
Que queira saber
Ouvir, compreender
Que opine
Critique, imponha suas ideias
Expresse o que sente
Que cobice o que já possui
Que me desperte orgulho
Admiração
Que me impulsione
Que seja uma catapulta
Que me lance para longe
Que queira ver o meu crescimento
Que não inveje
Que seja morfina para meu o coração
Ecstasy nos beijos
Que seja de uma pessoa só
Que abomine a arrogância
Cada qual com seu valor inestimável
Que tenha alegria de viver
Que queira viver sempre
Que opte pela vida
Que me faça bem
Que a minha felicidade
Seja a sua
E que o seu estar feliz
Seja o meu.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Rotina.


Quando o sol nascer
E fizeres te acordar
Com aquele raio quente e agudo
Acariciando suas pálpebras
Penetrando entre elas entreabertas

Quando olhares pela janela
E vires crianças correndo
Estão lá, no pátio da escola defronte à sua calçada
Brincam, riem, choram
Um curta romantizado da vida idealizada

Quando tomares teu café
Adoçado em sua caneca estimada
Comes uma fatia de pão, frutas
Delicia-te com reles minutinhos
És dono de teu tempo

Quando saíres para a labuta
Sentimentos emaranhados
Gratidão pelo dia
O bom humor breve vence a fadiga
Pelo céu azul que avista acima

Quando pausar os afazeres
No “coffee-break”, intervalo
Beberes água, arejares
Olhares pelas vidraças
Admirares os passantes apressados

Quando fores para casa
Parares nos semáforos
Dares a vez aos impacientes
Antes de xingares quem já te xingou
Repensando, represando, melhorando tuas posturas

Quando deixares teu carro na garagem
E olhares o painel, aquele brinquedo
Pendurado, colorido. Guizos .
Quando fores ao elevador
A chave de ansiedade em mãos

Quando abrires a porta
Quando descansares as pernas no sofá
Ligares a TV
Telejornais, crítico ponderado
Novelas, pós-doutorado.

Quando jantares em silêncio
Olhares pelo cômodo vazio
Cada cadeira à mesa é especial
Aquela era diferente
Aquela nunca foste tua

Quando fores para a cama
Apagares as luzes
Cobrires teu corpo contra o frio
Ou desnudo deitares
Ruminando sobre a vida
E tua... a minha

Quando cansares de tudo
Última gota de suor no rosto
Lágrimas, secarem
Quando discordarem de ti
Quando ao sono se entregares...
Sonhares com lugares fantásticos
Relações perfídias
Paraísos utópicos
Dores lancinantes
Vitórias almejadas
Caos
Lampejos embebidos de euforia...
Pensa em mim.