quinta-feira, 29 de março de 2018

Encharcado.



Cada volta que dá
A cada novo dia
Nova hora, novo minuto
O mundo a girar como um bola
Rolando, rolando ladeira a baixo
A inconstância das vidas
Nossos pensamentos, nossos apenas
E cada um com os seus, indecifráveis
Conto só com meu sexto sentido
Ou sétimo, oitavo, nono
Noningentésimo sentido
Todos infalíveis, bons amigos
Ah, vida que corre a 200 por hora
Doideira, ensandecida
Queria me enfiar nela e correr junto
Ser parte de sua engrenagem
Descer a montanha sem nenhum controle
Até aquela bola de neve gigante
Colidir e se desfazer completamente
Ou nunca parar, só crescer
Livre das ansiedades infelizes
Sofrendo do medo de sofrer
Livrar dos maus sentimentos
Dos que mal sentem
Mal fazem, mal dizem
Mal vivem,
Má sorte
As ilusões nossas de cada dia
Nos traem hoje
Bate e volta, sem arranhar
Casco duro, quisera eu
Maquio um sorriso a disfarçar
Estanco o sangue que escorre sem querer
Mas a gente vive, doa a quem doer
Quem está na chuva
É para se molhar
E choveu, como choveu
Tempestades assustam
Nunca temi clarões, trovoadas
Êxtase de correr pela chuva compensa
O raio cai sempre em mim mesmo lugar
Queima agora, já queimou mais
Queime mais
A cada cicatriz, momentos
Uma história no livro
Um amor para contar
Vivido, idealizado
Prematuro, embrionário
A chuva ainda cai
Até tirei os sapatos
As roupas
Joguei a bolsa na poça ao lado
Não quero capa
Nem sombrinha
Eu me molho
Por completo
De propósito
Com vontade
Jogador inveterado
Vício nos dados
Cartas na manga
Conto com a sorte
Eu quebro essa banca.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Execução.


É tanto poder
Uma ânsia de possuir
Avidez no olhar pelo alheio
Considerado seu, de mais ninguém
Caçam-te na alta estação
E fora dela, querem tua pele
Ouvi que a exporiam em suas salas
Quadradas, colossais, puro luxo
Financiamento: eu, tu, nós.
Salivam de tanta fome
Desejam devorar os sonhos teus
Alimentam-se de restos
Migalhas de amor
Pedaços miúdos de referências
Caráter de areia
Qualquer sopro leva, para onde tender
Tua mente voava longe
Horizontes deveras distantes aos olhos comuns
Abraçava teu semelhante, que somos todos
A imagem e semelhança do outro
Temor nenhum diante de trevosos
Raiva... há raiva, inveja
Sentimento medíocre esse
Cobiça pela tua história
Beleza...
Personalidade, acima de tudo
Fibra forte, gana de peitar
Nunca tomarão teus passos
Memórias e corações
Onde chegaste terá sempre a marca de teus pés
Moldados no chão irregular
Ao lado do filete vermelho que desce quente ainda
Sobras de uma noite triste
Resquícios da rotina cinzenta
Bem se sabe que era uma luta solitária
São muitos, covardes. Aqui tanto faz a vírgula.
Penso que sentam em um bar
Tomam cerveja
Comem um ovo colorido
Ledo engano... boteco?
Reuniões regadas a whisky
12 anos
Financiamento? Eu, tu, nós.
Pensam em como farão
Para encerrar a história de um sorriso
A vida de escaladas longas, porém, contínuas
Que inspira
Motiva os desmotivados
Impulsiona os inativos da vida
De fato, fazias valer
Davas teu nome
Presente do indicativo
Pretérito imperfeito
Silenciaram-te
Contudo, erraram o alvo
Deveriam ter mirado no peito
Foi de lá que veio
A origem de teus feitos.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Compaixão.


Imaginem se pudéssemos ser o outro
Qualquer um, que passa pela rua
O garçom do restaurante
O motorista do Uber
O executivo apressado da Rio Branco
O comprador da cobertura em Ipanema
Como seria ter a vida deles por um dia
Por vezes, queremos tanto
Insatisfações diversas
Injustiças a nossos olhos
Justiça talvez seja
Sabemos nada de nossa existência
Esquecemos quando chegamos
A grama do vizinho será mesmo mais verde
Ou são nossos olhos que escureceram
E descoloriram nosso jardim?
Há sempre verde
Há sempre flores
Nem que seja oriunda
De uma rachadura no concreto
Em uma calçada desgastada pelo tempo
Quantos conflitos vivem os passantes por nós
Dívidas
Amores
Prazos
Medos
Dores
A finitude de sua existência que se aproxima
E sabe disso
Todos vivemos em uma guerra interna
Silenciosa por mais que desabafemos
Nunca contamos tudo
Detalhes se escondem
Até de nós mesmos
Preferimos esquecê-los
De tanto esconder, se perdem
E a felicidade estampada no rosto
Genuína, pode ser
Mandatória, quem sabe
Indecifrável aos leigos
Quantas lágrimas naqueles rostos já rolaram
Quantas vezes os sorrisos se abriram
Qual terá sido o mais dia mais exultante daquele indivíduo
Quantos foram promovidos
Demitidos
Viajarão amanhã
Encaminham-se agora para o aeroporto
Será que se apaixonaram alguma vez
Hoje, que alegria seria
O mau humor tem razão de ser
A rispidez, a grosseria
Gratuita por falta de instrução da vida
Involuntária pelo duro dia
E os moradores de rua, pedintes
Jovens ou idosos
Todos foram crianças um dia
Cresceram como foi possível
Sobreviveram do jeito que deu
Escolhas? Destino?
Isso importa para que nos importemos?
Todos saíram de suas casas com um propósito
Todos querem voltar
Ou não... melhor acreditar que sim
Ninguém busca o mal para si
Até quando buscam, o fazem querendo o bem
Ninguém quer sofrer
Causam dor, nem todos sentem
Nem todos veem a dor do outro
Tarefa nem sempre fácil
As pessoas sofrem menos ou mais
Mas todos temos conflitos
Todos os dias; em todo lugar
Há um resto de amor no bolso aqui
Tome
Leve
Distribua
É de graça
Boa tarde
Excelente semana.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Retravo.



A porta foi batida
A bolsa, levada
As palavras, ditas
Não oralmente
Expressas nos silêncios
No dar de ombros
“Tantos fazes” falados...
Com a cabeça baixa
As costas de costas
Esquivando-se do toque
Parecia asco, que dor
Dó de ti de ver, viver aquilo
O texto já tinha sido proclamado
Ouviste? Não... estavas tão ocupado
Havia tanto a pensar
Usaste holofotes poderosos
Luzes multicoloridas
Letras garrafais em neon
Expressões de teus sentimentos mais autênticos
Só te importavas se fosse visto
Notado, compreendido
Estavas envolvido demais
Imerso em águas gélidas
Anestesiaram-te, infelizmente
A vida lhe mostrava
Não adianta... a paixão nos cega
O amor, alimenta a alma
Fonte do perdão... para quem o merece
Como o usaste, não é mesmo?
Sem o menor controle... És um consumidor voraz
Alimentaste tua tristeza com perdão
Iguaria pouco comum por essas bandas...
Não se cria infelicidade a pão de ló
Nunca dê o que comer a mediocridade
És bom homem, luz azul clarinha...
Que de longe se percebe a aura reluzente
O sorriso sincero que a todos conquista
Tens algo de especial
Não sei definir
E mesmo sem querer
Vejo e reconheço em ti
És diferente
Edição limitada, para os íntimos
Mereces tanto a plenitude do verdadeiro amor
Viver a sensação de ser e estar na magia
Inebriante deleitável jocosa magia
Que é aquela brincadeira simples
Entregar o mesmo que tens para me dar
Trocamos as prendas
E ficamos satisfeitos
Não é difícil ser feliz
Muitos não sabem, mas é tão simples a receita
Porém, compreendo teus infortúnios
És um perdido na multidão
Legião de sedentos por amor
Que não sabem amar
Pouca serventia dar-lhes amor
Não sabem lidar com ele
Jogam-no fora, descartam
Ou nem o veem
Fazes tua parte
Amas com força
Sabedoria
Benevolência
Destemor
Pureza
Sei que, por vezes, encontras-te destacado
Sozinho no meio do caos
Zonzo pelo movimento
Desfalecido pelos solavancos
Não te permitas cair mais uma vez
Mas se tiveres de cair
Terás sempre uma mão a levantar-te
E mostrar-te que o amor não fere
Não dói
Não estorva, nem desvia
Amor complementa
Faz acreditar
Esquecer
Sorrir
Mostra que sempre vale a pena recomeçar
Sem receios, inseguranças
Não questiones certos episódios da vida
Inconscientemente, nossa energia afasta o reles
Nossa fé, nossos destinos
As Forças Superiores que te guardam
Cuidam para que nenhum mal fique em tua vida
Preparam-te para melhores caminhos
Lembra-te: és um homem abençoado
De luzes azuis clarinhas
E aura reluzente
Irradiando o que lhe foi ensinado
E o faz com a perfeição dos mestres:
Amar.

terça-feira, 6 de março de 2018

Gratidão.


Como sabemos pouco da vida.
Temos uma noção tão limitada dos acontecimentos...
Os fatos que se sucedem, as sequências lógicas...
O tecer dos caminhos oriundos de encontros...
Ao acaso; que acaso? Não há acasos.
Creio que há peripécias que independem do livre arbítrio.
São apenas resultados de encontros, nada além.
Algumas, ah, que alívio nos trazem!
Acalantam-nos, confortam-nos.
Trazem-nos a paz da qual éramos privados...
E nem sabíamos.
Por vezes, queremos tanto ter certeza;
Um tipo de segurança, garantia...
Garantia de uma infalibilidade utópica.
Medo de errar...
Medo de sofrer...
Medo de deixar partir...
E se arrepender.
Nem sempre, mas afirmações surgem...
Aos poucos ou prostram-se diante de nós...
Como um poste bem no nariz de leitores ambulantes.
A dor é tal qual.
Uma agonia necessária, libertadora.
“Desvendadora” de olhos, reveladora.
Vemos a situação em seu âmago.
Lá está seu cerne obscuro.
Uma alta definição do incerto...
Closed-caption da essência confusa.
Consequência de encontros, apenas.
A vida enxerga a todos nós.
Compadece-se de nossos lamentos...
Sensibiliza-se com nosso estado...
Compreende a nossa vulnerabilidade diante de infortúnios.
Muitas vezes, somos impotentes perante eles.
Tocada, ela nos mostra...
Em tela plana, 92’’...
A verdade, sem filtro.
Não para espezinhar, achincalhar...
Mas, para dar dois tapinhas em nossos ombros e dizer:
“Que sorte a tua”.
Um sentimento de dia ensolarado...
Após semanas de chuvas torrenciais.
O mérito da libertação não é meu, jamais.
Estaria afogando-me ainda, admito.
Afundei sem querer;
Perdi todas as forças, deixei-me levar.
A excelência pertence à vida.
Que moldou trilhas, caminhos...
Meios indiretos diretos curvos retos...
De me conduzir ao cinema mais próximo,
Pagar pelo meu ingresso,
E colocar-me no melhor assento, aqueles do meio da sala,
Para assistir-lhe cruamente...
Em sua fidedignidade.
Vi... e lamentei. Fazer o quê? 
Só me resta agradecer.
Obrigado, querida.
Você é um amor.