segunda-feira, 31 de julho de 2017

Festa

Trouxe a bebida esperada
Em taça de vidro quebrada
Na casa agora abandonada
Daquela que foi levada

Tem cálices de ouro
Tem botas de couro
Todo um avultado tesouro
Logo atrás do matadouro

Menina, dance ao som
Sinta o vento bom
Lembre-se de seu dom
Lábios do seu batom

Sangue lânguido corre apressado
Azulejo de chão acabado
Cate o sorriso sacrificado
Vida de trapo emendado
Olhares de olho forçado
Um pra ver o bocado
Outro para contar o trocado.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Viagem.

Primeiro é um oceano, todo um mar em sua infinitude.
Sereno, bonançoso. Crianças navegariam sem boia.

Um mergulho e cores surgem. Uma aquarela de emoções. Mais claras, pouco roxas ou cinzas.
Todas montam o ser. Há harmonia na variedade.
Até vida no escuro. Vida em toda parte.
O fluxo das águas me abraça.
Água morna, quase durmo e me afogo.

À superfície, um sol. Real, imponente, vistoso.
Quanto brilho. Quanta luz.
Forte. Agudo. Quase mordaz.
Não há dor, pois não fere.
Encanta.
Envolve.
Seduz.
Encanta.

E à noite? Ah, a noite...
Fragmentos de cristais graúdos no imenso pano de fundo do espaço.
É um novo sol; novos e vários sóis.
Tudo torna-se claro;
Cristal;
Verdade.

Vento me acolhe, brisa me suaviza a alma.
Abro os braços, preencho-me dessa luz.
Quero senti-la, engoli-la;
Engarrafá-la e levar comigo.
Não quero que acabe o êxtase.

O dia; a noite; o mar; a paz...

Vivo cada momento.
Respiro a plenitude.

Deito-me na calma que exala.

Como um choque elétrico, volto a mim.
Desperto.
E percebo que todo o tempo
Estive apenas imerso

No brilho dos seus olhos.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Digressões Pós Meia-Noite

Dormir me incomoda.
Sinto-me cansado, mas, por vezes, dormir me incomoda.


São cinco, seis ou doze horas que temos para fazer... nada. Descansar é preciso, o corpo pede, mas, e aí? Produzimos o quê naquelas horas de repouso? Nada.

Gosto de dormir tarde. Tenho a sensação de que aproveito mais o dia. Ou melhor, a noite. Sou notívago; penso melhor, tenho ideias, ideais, sonhos e planos na madrugada. Não sei explicar, se é que há uma explicação para isso. Sei que meu espírito se enche de energia na noite. Mas tenho que dormir. E aí?

A noite me instiga. Por vezes, fico olhando a rua durante a madrugada. Vejo janelas e mais janelas, algumas acesas, muitas apagadas. Penso nas pessoas que lá residem. Se são felizes, se sentem dor naquele momento, se estão a fazer sexo, se estão se recuperando de um dia terrível. Com certeza, acerto sempre.

E o som? Os sons que a noite produz. Aquele barulho dos carros passando, mas, de longe, muito menos frequentes do que durante o dia. Alguém ouvindo rádio ao longe, provavelmente o guarda da guarita do condomínio onde moro. Forço-me a ouvir a música e saber qual é. Muitas vezes, é uma rádio de músicas light, flashbacks internacionais ou nacionais. Por vezes, é um louvor. Ele deve ser evangélico.

Faço planos mirabolantes para vencer na vida. Bolo tudo! Passo a passo, minimamente desenhados. Isso sem falar no dia seguinte. Penso e planejo o meu dia inteiro nessas horas de silêncio. Acordarei mais cedo, irei à academia pela manhã, tomarei um café mais leve. Em me imponho horários, certo de que são possíveis. Está tudo pronto na minha cabeça.

Eu durmo. Acordo tarde. Cansado. A academia da manhã já se foi. O café da manhã vira almoço. E daí? Haverá outra madrugada. Planejarei tudo de novo.

E não cumprirei tudo novamente.


E isso não é fantástico?